sábado, 21 de maio de 2011

Os 21 Anos


À minha vida toda foi dita a mesma coisa
Durante vinte e um anos ouvi
Desde conselhos maternos à advinhação roma
Desde sonhos esquisitos a mapas astrais
"Cuidado com o mar"
"Cuidado com a água"
De fato nunca fui o melhor nadador
E também nunca gostei de ficar torrando sob o sol de um praia
Mas sempre preservei mesmo assim o mar como um "estranho íntimo"
Muito bem-vindo
Que dança de noite refletindo uma lua clara e calma
E trazendo consigo os melhores dos ventos
Senti isso há pouco mais de um ano em Recife
Senti isso agora nessa páscoa em Santa Catarina
O bom caminhar na praia sob um céu escuro
Mas um céu de luz
É tão gostoso o passar das ondas entre as canelas
Mais gostoso é a brutalidade da brisa que vem do oceano
Ta aí
Talvez seja bem isso
O que atrai não é a água, mas os ares
Deve assim existir o tal "lobo-do-mar"
Alguém que desde pequeno sempre foi tão afeito aos ares
Que quando criança brincava de girar em torno do eixo no jardim
Só pra sentir o vento frio
Ê, meus sete anos...
Já os vivi três vezes...
Sempre prezando uma tal liberdade
Que de tão livre se tornou tão difícil de entender
E só muito recentemente começou a tomar forma e conceito
Liberdade que apareceu não como a tolice de voar por voar sem rumo
Isso se faz pois, o Homem, que é hóspede em qualquer lugar
Já não bastasse sua condição de candeia ao vento
A liberdade que de tão livre te permite se recolher em si de vez em quando
E chega ao fim o primordial dos ciclos
O do Homem, os 21 anos, e a evolução do corpo
Chegam frente ao desafio de novas atividades
De novas e pequenas mãos a guiar
Frente ao risco bilateral de quebrar a mesma promessa
Frente à firmeza necessária de não cometer um mesmo erro
E arcar com seu preço
Dando as costas para o que está de um lado e de outro
Intensamente após um longo exílio, no qual às vezes pensou-se estar morto
Frente a futuro e a presente e seu amálgama aparente
Que surge decisivo ao coração quanto à cabeça
E por enquanto...
Que cada um esteja no seu lugar










אלוהים יברך אותנו נכון

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sonho do Incêndio (madrugada do sábado 14)



Estava parado à noite em frente à igreja
A mesma igreja das Mercês de sempre
Mas ela parecia estar do outro lado da rua, ao que ela sempre se encontra
Era já madrugada e podia-se ver de fora da igreja enormes labaredas que dentro dela subiam destruindo tudo
O fogo não passava das portas do templo e não havia ninguém lá dentro
Algumas pessoas, incluindo três ou quatro vestidos de hábito marrom e cordão na cinta olhavam passivamente
Estavam eles em uma casinha de madeira ao lado, da qual eu não me lembro existir de verdade, e diziam calmos
"Isso tem que acontecer, é sempre assim, sempre acontece, é normal..."
As labaredas tomavam uma altura assustadora, mesmo sem alcançar a torre
Virei as costas e olhei alguns segundos para uma frondosa árvore, que parecia ser um freixo
Quando olho de volta o dia já está totalmente claro, com um céu azul limpo, mas estranhamente sem sol
O fogo se apagou e as portas da igreja estão abertas
Fico surpreso ao ver que tudo foi consumido, mas incrivelmente não há cinzas
Todo o templo se  tornou uma imensidão vazia de mármore branco
Do chão ao teto tudo branco
As únicas coisas que lá continuam são:
Na parte superior, imediatamente atrás do altar
A conhecida imagem espanhola da Virgem Maria
De manto azul e rosa
Carregando no colo o Jesus menino
Que acena segurando em sua mão esquerda as correntes mouriscas das quais libertou seus fiéis
E sobre o altar propriamente dito se encontra uma cruz dourada com a hóstia magna
Para onde se dirigem em fila os frades, de mãos postas
Me chama atenção um que parece já conhecido, jovem, de aspecto moreno e baixa estatura
É o que vai à frente de todos os outros
E eles parecem ir aos poucos desaparecendo à medida que se aproximam da eucaristia
O silêncio é absoluto até um momento em que volto à porta da igreja e vejo uma mesinha de madeira simples
Repleta de folhas sulfite com desenhos coloridos de criança
O sol aí se faz presente e se ouve um som de passaros que vem daquela árvore do outro lado da rua
Que agora parece esbanjar vida e um vigor brilhante
No fim do sonho me vejo novamente dentro da igreja
Descalço sobre uma escadinha branca de madeira
Vestido de camiseta branca e calça também branca dobrada nos tornozelos
Pintando com tinta nos dedos e sobre a parede alva do templo
Uma grande imagem morena, bondosa e de barba longa que veste uma túnica vermelha quase marrom
Com uma grande faixa dourada
Pelas chaves que ele portava nas mão, imaginei ser Pedro, o Apóstolo
Uma espécie de tambor agradável e solitário parece ser levemente tocada ao fundo
Acordo, e após uns momentos de letargia, olho o celular e marco a hora (embora meu relógio esteja um pouquinho adiantado)
4 horas e 50 minutos da manhã