quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ariel

 Engraçado! Fazia mais de um mês que eu não sonhava com nada... Nessa madrugada mal-dormida de 15 pra 16 de fevereiro de 2011 finalmente me veio alguma coisa. Um sonho diferente, como são praticamente todos eles, nítido, estranho, e como todos os outros sujeito a toda sorte de análise... É! Sempre fui bom em analisar sonhos dos outros, mas incapaz de avaliar os meus próprios. O que chamou a atenção nesse caso foi justamente a ausência de qualquer coisa conhecida, senão de mim mesmo: Sem lugares necessariamente familiares, sem pessoas conhecidas ou desconhecidas, sem nada! Só eu mesmo e o ambiente. No sonho, me sentia extremamente "jovem", mas minha imagem, apesar de reconhecível, não era igual a nada do que eu tenha sido um dia. Sentia meu rosto rejuvenecido, liso, e meu corpo pequeno e franzino vestia roupas claras e leves, que eram tomadas por uma atmosfera azul e luminosa, como tudo em volta no sonho. Me encontrava numa posição reclinada, meio deitado, com uma das pernas dobradas e outra esticada, a parte superior do corpo apoiada sobre os cotovelos. Era uma posição confortável, embora me sentisse de alguma forma paralítico. Incrível que pareça, era uma paralisia confortável. Uma coisa que talvez seja a única um pouco mais familiar (me remete à infância, quando tinha entre 7 e 8 anos) era o fato de estar no alto de uma colina, com minha cabeça reta e atenta ao horizonte, enquanto o corpo jazia sobre as raízes de uma árvore, que era diferente do carvalho seco da minha escola de 1ª série, parecia mais ser um enorme freixo, de tamanho absurdamente colossal, cuja incrível quantidade de folhas estranhamente não produzia qualquer sombra. A noite, de céu anil e limpo, mas sem estrelas, estava iluminada pela lua. Mas não era possível ver essa lua, pois ela dava a impressão de estar exatamente encima da árvore. A altura da colina também era enorme, e de lá dava pra ver, apesar de uma névoa fina que parecia ofuscar suavemente tudo abaixo, um sem-fim de campos de gramas altas, que sacudidas pelo vento, dançavam emitindo um som extremamente agradável: O único estímulo auditivo de todo o sonho. Sentado sobre uma das raízes, que eram cobertas de um musgo úmido e vivo, comecei a ver e sentir que caranguejos passeavam, um por vez, sobre a minha mão direita. Não eram muito, no máximo sete ou oito, e eu os assistia passarem de forma tranqüila, impassível. Este é outro fato curioso do sonho: Reagia a tudo com muita naturalidade. Voltei minha cabeça lentamente para a esquerda, e em outra das raízes, está sentado um ser quase idêntico ao que já vi em outros sonhos tanto mais recentes como bem mais antigos. Tinha as formas de um ser humano, embora aparentemente sem sexo e sem rosto, e era tomado por uma luz branca muito intensa contornada por uma espécie de aura índigo meio apurpurada, e que impedia que se fosse visível qualquer coisa senão os contornos de seu corpo. Este ser segurou minha mão esquerda de uma forma estranha, porém delicada, pela veia do pulso, e a sensação de seu toque era algo não bem descritível: De certa forma intensa, mesmo sem ser boa nem ruim, sem causar dor nem prazer, medo nem alegria. Um detalhe que torna essa figura diferente das outras dos outros sonhos, é que de alguma forma me veio à mente o seu nome: Ariel (embora jamais tenha conhecido ninguém, homem ou mulher, com esse nome). No sonho, eu acabei por chamá-lo por esse nome, embora não conseguisse ouvir minha própria voz, chamei-o Ariel. Porfim, esse ser ergue delicadamente sua mão esquerda e num gesto manso fecha meus dois olhos. Nessa hora eu acordei, respirei uns segundinhos de letargia e olhei o relógio do celular: Eram 3 e 34 da manhã ainda, minha atenção se voltou a um petulante mosquito que zumbia ao meu ouvido, com seu vôo gordo após ter se alimentado muito bem do meu sangue. Só fui cair no sono novamente lá pelas 6 horas, e não tive nenhum sonho em seguida.